Carta #16 - O que eu gostaria de ter ouvido (ou lido) quando fui mãe pela primeira vez.
Às mães de primeira viagem.
Domingo, às 20:40.
Oi, mãe de primeira viagem. Como você tem se sentido?
Esse final de semana eu pensei em você.
Hoje recebemos em nossa casa amigos muito queridos que não víamos há pelo menos três meses, pois com a chegada do nosso bebê mais novo ficamos mais envolvidos com as demandas da nossa família. Durante a conversa, meu marido abordou nossa insegurança como pais de primeira viagem. Ele contou aos nossos amigos que certa vez nos preocupamos com a moleira da nossa primeira filha, ao notar que estava mais funda do que o habitual. Naturalmente, recorremos ao Google e nos desesperamos com as diversas informações alarmantes que encontramos. Hoje, como pais de três, rimos muito ao lembrar desse episódio.
Também hoje, por acaso, encontrei uma conhecida com sua primeira filha no colo. A bebezinha tem apenas seis meses de idade e a mãe… Bem, a mãe é mãe há apenas seis meses. Ela carregava um semblante de alegria e orgulho por ter sua pequena nos braços. Ao mesmo tempo, seu olhar refletia o desassossego que é a essência de uma mãe de primeira viagem. Ela me disse: "É difícil, né?" E eu, respondi: "Sim! O primeiro é!". Não acho que ela tenha compreendido minha resposta. Talvez abraçá-la tivesse sido a melhor resposta, aquela que teria trazido algum conforto para tantas angústias, dúvidas e insegurança.
Se você, mãe de primeira viagem, leu a carta nº 14, deve estar se perguntando sobre aquela conversa de melodrama sertanejo e vitimização na maternidade. Mas calma, não mudei de ideia. Continuo achando que amor — principalmente aos nossos filhos — não combina com vitimização. Se você for por esse caminho, a consequência inevitável será se perder na jornada. O que desejo abordar aqui são as inseguranças próprias dos primeiros meses, talvez os primeiros anos, de maternidade.
Eu não sei se acontece com você, mas quando nasceu o meu primeiro bebê eu vivi por meses com a sensação de nó na garganta. Tive que aprender a conviver com o desconforto da constante insegurança sobre dar conta de cuidar daquele bebezinho tão pequenino. Conversei com outras amigas que tiveram filhos na mesma época e todas relataram ter o mesmo sentimento.
Por mais que a gestação dure nove meses e nesse processo a gente vá assimilando e amadurecendo a ideia de que estamos prestes a nos tornar mães, a verdade é que só na prática descobrimos o que isso realmente significa e a profundidade disso.
A maternidade é avassaladora. Da noite para o dia abala (ou derruba) estruturas, questiona convicções, reforma sonhos, renova esperanças, revela medos, inaugura dúvidas, escancara vulnerabilidades, desabrocha coragem, desponta fé. É diante dessa explosão que um pedaço do seu EU deixa de existir para dar lugar ao seu novo SER. Essa metamorfose é de fato angustiante.
Saiba, mãe de primeira viagem, que o que você está vivendo não passa de receio pelo desconhecido. Você ainda não é capaz de vislumbrar a bela borboleta que surgirá ao final deste processo, quando finalmente se der conta de que se tornou MÃE.
Sei bem que agora, enquanto suas estruturas se abalam, os seus olhos embaçados lhe permitem enxergar apenas a frustração de não ter conseguido o parto que queria, a dor ao amamentar, a insegurança ao dar banho nesse pequeno ser humano, o sono que não consegue mais repor, a ansiedade com o teste do pezinho e até a culpa por precisar oferecer fórmula.
Preste atenção que eu vou te dizer o que eu gostaria que tivessem me dito quando me tornei mãe pela primeira vez:
Não se vitimize!
Se você é leitora assídua do “Mãe por escrito” você facilmente imaginou que “não vitimizar-se” estaria nessa lista. Quando nos colocamos na condição de vitimas absorvemos inércia, que não combina com a maternidade. A maternidade não é um convite, mas sim convocação para servir, cuidar de outro.
Você é capaz!
Pode até não parecer - acredito, inclusive, que o seu próprio bebê tenha sido o primeiro que você pegou no colo em toda a vida- mas você é capaz de cuidar do seu bebezinho. E, digo mais, tudo o que ele precisa é de você. Você é a melhor mãe que ele poderia ter.
Esteja atenta à sua saúde
O pós parto exige muito do nosso corpo. Além do esforço para se recuperar da gestação e do parto, está em pleno trabalho árduo para oferecer o que tem de melhor para o bebê através do leite materno. Assim, é essencial que você esteja atenta à sua saúde. Alimente-se bem e cuide das dosagens das vitaminas essenciais para esse momento. Isso, sem dúvida, vai te manter mais forte e disposta para atravessar as dificuldades dos primeiros meses. O meu primeiro pré-natal não foi tão cuidadoso, não tive a indicação de reposição vitamínica e o pós parto não foi diferente. Eu tenho certeza de que isso fomentou as minhas dificuldades físicas e emocionais.
Aprenda a gerenciar expectativas:
Não se compare com outras mães, muito menos o seu bebê com outros bebês. Foque em SUA jornada!
Resista à tentação de recorrer ao Google
Sendo mãe de primeira viagem, eu te garanto que as chances de você se desesperar com situações corriqueiras (como eu me desesperei) são enormes! O melhor a fazer é tirar dúvidas com o pediatra. Um exemplo é a questão do peso da criança. Por mais que exista parâmetros, tais informações representam uma média. Cada criança tem as suas peculiaridades. Logo, o importante é que ela esteja crescendo e ganhando peso conforme os dados do seu próprio gráfico.
Espere até o primeiro sorriso
Espere até o primeiro sorriso para você cair, de vez, de amor por esse serzinho. Não há nada que pague testemunhar o primeiro sorriso do seu bebê. Você vai ver que a cada sorriso, a cada fruta experimentada, a cada tentativa de passinhos, você vai se apaixonar mais e mais.
A maternidade é um processo de aprendizado. Não se preocupe!
Arrisco dizer que meu segundo bebê desfrutou de uma mãe significativamente melhor — mais tranquila, paciente e confiante — do que meu primeiro. Quanto ao terceiro, a evolução foi ainda mais notável.
Você mal se tornou mãe e já estou sugerindo que tenha mais filhos? Não! Não tenho nada a ver com isso! O que quero dizer é que, como tudo na vida, à medida que avançamos na jornada da maternidade, vamos pegando o jeito. Aprendemos mais, entendemos melhor nossas limitações e descobrimos onde precisamos melhorar para exercer nossa maternidade com mais segurança. E nessa caminhada, há bônus irresistíveis: bracinhos esticados pedindo colo e até um "Eu te amo, mamãe!” são alguns deles.
Esteja firme você aprenderá a ser mãe. É uma questão de tempo.
Receba o abraço desta irremediável apaixonada mãe de três.
P.s.: Minha filha mais velha tem sete anos. Às vezes, a insegurança ainda bate à minha porta. Porém, a essa altura, já desabrochei como mãe e assumi minha função mais importante. Com base nos valores que pretendo transmitir a ela, desenvolvi uma rota clara para minha jornada. Isso torna o processo mais sólido e me dá segurança, mesmo nos momentos mais desafiadores. Essa segurança chegará para você também. Acredite!
Com carinho,
Andreza Galdino